Artigo

A História Contada num Capítulo - Parte VI

Ela contava-lhe as histórias das aulas de condução que ia tendo e o instrutor que tinha, ele também falou das desgraças que teve ao volante nas primeiras aulas de condução, que quase entrou pela montra de uma loja na avenida principal da cidade onde morava, e dos inúmeros instrutores que teve porque nunca gostou de nenhum. O rapaz nunca gostava de nada, mas a partir dali tomou consciência do porquê disso acontecer.

Contudo ele disse-lhe para não ter receios, porque de certeza iria conseguir superar todos os seus medos e receios, e assim tornar-se mais independente, não ter a preocupação de andar de autocarro todos os dias, ou estar dependente do pai a vir trazer às vezes. Pediu-lhe para lutar por isso, por todos os seus sonhos.

Não disse em vão aquelas palavras, tinham um peso certo à medida do que ele sentia. Tudo era novo. Mas ele indirectamente disse-lhe sem ela perceber o que sentia em si. Será que ela se apercebeu?

Ele sorriu. Ela sorriu. Ele voltou a sorrir. Ela voltou a sorrir. Lembrou-se de ir ver o bilhete do horário dos autocarros que tinha na sua carteira, que estava na sua mala, e assim ver e as horas em que iria ter de apanhar o autocarro para casa.

O rapaz ainda perguntou se ela precisava que a levasse a casa, mas ela disse que não.

Estiveram a falar da família de ambos, e que a família dela tinha uma casa nos arredores da cidade onde o rapaz sempre viveu, mas, no entanto, ela era de longe, de uma terra que começa pela letra da terra do rapaz. No entanto era provável que um dia se mudasse para a cidade do rapaz se os pais decidissem mudar. Ele ficou radiante em saber isso. Talvez porque queria estar mais tempo com ela, mas não lhe queria dizer logo no primeiro dia para a assustar.

Ainda tiveram tempo para falar das preferências futebolísticas, apesar de o rapaz dizer que era do Sporting, parece que a rapariga gostava de outro clube, o rival vermelho e branco, mas o futebol não interessava muito naquele dia, porque não eram rivais mas sim cúmplices de algo que se sentiu no ar, apenas inventou este tema de conversa para não parecer mal e ter uma desculpa para não olhar para a rapariga daquela maneira como queria olhar, num silêncio perfeito.

Ele ficou com toda a conversa gravada na sua memória, porque foi a conversa mais importante que teve com alguém durante a sua vida. Por ser a primeira de uma nova etapa da sua vida, uma vida em que podia amar.

Se o que estivesse a sentir fosse banal ou comum não tinha decorado cada pronome, determinante, daquela conversa.

Já era tarde, …

14 JAN, 2017 0

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